terça-feira 04 2025

                               EP I - OLHA A COBRA

                        


Todos estavam lá. Guarde essa informação. Aliás, ao chegar na recepção, já é possível perceber a diferença. O menino simpático não fica atrás de um vidro, tampouco, tenta enfiar uma toalha e um chinelo pelo pequeno quadrado, que serve como canal de comunicação entre quem atende e quem chega/sai. Assim que entrei, foi como voltar no tempo em que chegava na Borges Lagoa, quando ali funcionava uma das melhores saunas que essa cidade já teve. Muito do que vi, espaços, fatos, me remeteram ao passado. Por um lado, inicialmente me pareceu bom, pois é como aquela receita de algum alimento que mesmo sendo básica, sempre funciona e se você quiser inovar, colocando um outro ingrediente, provavelmente vai perceber que não faz sentido mexer na fórmula. O outro lado, é que por já ter vivenciado as situações, pode ser que eu esteja em vantagem ou desvantagem, a depender do ponto de vista e passe grande parte da noite, em Déja-vu. Nesse caso, resta aproveitar o que está disponível e rir. 
Logo após a recepção, um bar moderno, com funcionários bonitos e simpáticos. Nada de gritos ou piadinhas. Também não vi nenhum escondendo moedas nos bolsos. Um grande salão com mesas, e ao lado, uma sala de descanso. Enquanto me situava geograficamente, sem querer, pude ouvir um michê feio e com características femininas agudas, na companhia do que seria um massagista/ auxiliar de estacionamento, debater a questão de gênero na sociedade atual e importância e influência de Trump nesse contexto, enquanto condenavam as ações intencionais do "pessoal" da esquerda, em tornar todo mundo em gay. 

" Os gays acham que todo mundo tem que ser gay, só porque eles são. Nas escolas, eles estão fazendo as crianças virarem trans".

Dessa vez, eu tentava me situar psicologicamente e fui salvo por outras gays que adentraram o espaço e juntas, sufocamos o papinho sem nexo de duas gays que não conseguiram, ainda, quebrar as correntes que as mantém presas ao presente que lhes resta, por ora.

Mais ao fundo, há uma mesa de sinuca e fumódromo em um espaço amplo e arejado. Na ocasião, uns 4 boys estavam no ambiente. Enquanto caminhava até lá na tentativa de algum reconhecimento para prever minhas reações, eis que esbarro em um senhor bem conhecido desse xaxo, o qual dava indícios de que se apropriou da tendência de utilização de cueca na sauna. Sim, Lucas! O bruto, o grande....aquele peito peludo parou bem no meu rosto, enquanto seu caminhar desequilibrado tentava se esquivar de esbarrar em mim. Não foi proposital. Foi uma daquelas situações que a gravidade nos empurra na direção do embuste, justo naquela que ele decidiu seguir para se esquivar da gente. " Ah, não"! Escapou. Juro que foi automático. rapidamente, me corrigi, lembrei que poderia precisar dele horas depois e com um sorriso falso no rosto: " Oi Alex..." .


                                                                                                                                                    EP II - ELES NÃO SE IMPORTAM

                                                     

Após me desvencilhar do senhor de cueca vermelha, continuei em busca re rostos conhecidos na mesa de sinuca. A primeira visão deu conta de um certo boy, que em outra ocasião, contei que me dei ao trabalho de ir me esfregar com ele no hotel, ele deu umas bombadas, gozou e vestiu-se, como se eu não existisse. Vale lembrar que ele é facilmente localizado na praça dos pombos e região. Estranhei o fato dele estar lá, mas se assim o fosse, a casa estaria vazia, dado o nível de quase todos eles. Não eram muitos. Um mulato, baixinho, tatuado, com a perna fina, que algumas vezes o vi na finada sauna do Pacaembu. Respirei e me preparei para tropeçar naquela que uma vez contou como boa qualificação em sua profissão, o fato de nenhum "bofe" numa tê-la rejeitado. A Moreninha não estava. Era algo a se comemorar. Eu não queria passar por aquilo tudo de novo. Uns 3 boys brancos e com tatuagens similares, iluminavam o salão com suas luminárias implantadas na cavidade bucal. Aquilo é coisa do demônio. Lucas fica encarregado de alertá-los que aquilo é cafona e nada exclusivo. Me distraí no celular e pude notar que um boy muito lindo e padrão michê de sauna, estava jogando sinuca. Fiquei ouriçada e fui alertada por uma visitante, que a essa altura já me acompanhava em um drink e me atualizava sobre o modus operandi da casa, sobre os anexos ocupados pelos boys em momento de descanso e sobre o fato de todos serem capixabas, que se tratava de um cliente e não um mísero boy. Como podia? Tratei de justificar meu espanto com tal informação, garantindo que a colega compreendesse que eu não a induzi a pensar que somente mariconas e bichas desprovidas de juventude, beleza e sexapil fossem exclusividade nesses ambientes, afinal, estávamos nós ali e tantas outras gay, que aliás, nunca vi tanta bicha novinha em uma sauna de boy. Era possível confundir. Tal afirmação ficou tão evidenciada, quando um cliente parrudinho passou a me mirar e me desejar com o olhar, a ponto de ele mesmo ficar sem jeito. Da mesma forma, os boys agiam para com todos que ali estavam. Era raro ver uma cena de aproximação e "assédio" dos boys, que apesar de poucos naquela multidão de bicha, preferiam ficar em sua rodinha, tomando Gin e planejando viajar para o RJ, com a promessa que iriam alugar um Airbnb e almoçar em frente à praia. Talvez faça sentido a teoria do colega, de que aqueles boys vem de uma realidade que qualquer 200, 300 reais na noite já lhes baste. Ouvi mais de um boy alertar a proprietária da casa, que às 22H colocaria a roupa, sendo repreendido que seria somente às 23.
Enquanto a colega me contava da quantidade de boys importados do Espírito Santo, para trabalhar na capital paulistana, ( Na sauna e em um lugar indefinido), fomos interrompidos pelo boy, que ouso dizer, era o mais atraente da noite. De nome Davi e com um sorriso fácil, parou e trocou algumas palavras e sorrisos com a gente. Só. O colega se insinuou e perguntou se seria naquela noite, obtendo silêncio e a interrupção da conversa por outro boy como resposta. Eu decidi que o boy seria meu, mas como poderia, se a colega demonstrara interesse e falara maravilhas daquele jovem garoto de pele branca, roupa da mesma cor, mesmo sem nunca ter trepado com ele? Lembrei do tanto de olho que já furei, mas não dependia só de mim. Minutos depois, pude ver quando o boy que se tornara o centro da minha atenção tramando com outro de beleza semelhante, mas todo trabalhado no golpe e sacanagem, um atendimento a dois, com uma bicha aparentemente gringa que a essa altura, ja havia consumido metade do estoque do bar. Fui ao banheiro e vi quando os três entraram em uma suíte. Cerca de 20 minutos depois, pude perceber que o cliente tentava pegar algo de dentro da cueca do boy, reservadamente. Mais tarde, ouvi sem querer, um esculacho nos boys, proferido pela proprietária: "vocês são uns filhos da puta, não eram pra ter dado aquilo". Entendi tudo! Àquela altura, no anexo 2, espaço onde rolaria o Bingo de milhares de reais, uma multidão de gays se acomodou em mesas, para apreciar um delicioso jogo!.



                                                  EP III - TODOS ESTAVAM LÁ

                                                                                
Passado o primeiro impacto de um ambiente novo, apesar de muitas referências e remendos de outros lugares e situações, aquela pergunta clássica: Tá, mas e os boys? Nada...era só aquilo mesmo. A casa estava lotada de gente. A patota toda tratou de se enfiar no anexo 2, onde há um acomodações para a jogatina e para beber enquanto os vovogo gastam suas botas, na tentativa de não deixar minguar essa profissão que faz tempo, ninguém deixa de ir pra algum lugar se eles não estiverem. Gordas, magras, novinhas...
O proprietário de outra sauna, aquele que exala falta de carisma e tem de sobra ingerência sobre o seu agonizante comércio de corpos sem corpos, chegou com sua patota e mandou que descesse seu espumante. Enquanto no prédio principal, clientes procuravam motivos para voltar outros dias, lá fora, no jardim do anexo, um grupinho do que parecia ser michê, conversava e tomava Gin, demonstrando continuar não se importando com nada que se passava à sua volta. Um de cóqui, era o mais animado. Improvisara e transformara a toalha em uma saia mini e bem justinha. O outro, aquele que eu falei ser o melhor que lá estava, parecia já ter batido sua meta, pois não trocava sua taça de Gin por nada nem por ninguém. Me senti rejeitada!
Bastava, eu já tinha visto tudo! 



Enquanto aguardamos para ver se a sauna continua aberta ou fecha no Primeiro Semestre, você pode navegar e se deliciar com
 homens héteros sigilosos na Cam.