domingo, 6 de fevereiro de 2022

                                                                   TERRA DE PICON PARTE 1


Eu tinha uma viagem programada pra Salvador fazia algum tempo. Entre a espera de melhoria na situação da pandemia e o desejo de fazer o movimento de sobe e desce em um corpo diferente, sob uma temperatura de uns 38 graus, eu preferi ir e continuar tendo todos os cuidados sanitários que tenho aqui ( fui na sauna duas vezes aqui, só essa semana).

Um dia antes do embarque, a Cia aérea me notificou de alteração no voo. É pra não ir? Eu vou! No mesmo dia, fui orientado a embarcar em outro aeroporto de origem. "Ai, chega, não é pra ser".

Fui.

Aproveitei um pouco a cidade...Mentira, dormi e no dia seguinte fui pra sauna. 


Sauna Fox


Na portaria, um segurança me deu as boas vindas. É curioso que mesmo o funcionário da externa, já te acolhe e se mostra simpático, demonstrando ter ciência que aquele espaço existe, graças a você que frequenta, graças ao boy que ali vai doar seu leite e fazer sua arrecadação diária para pagamento da pensão, para comprar alimentos, para fazer a aposta no jogo de azar. Apesar de estar na moda os desenfreados pedidos de Pix, as pessoas ainda precisam se coçar para conseguirem o que almejam ter. Manter uma sauna gay, ou qualquer outro espaço, está longe de se resumir a tinta cara nas paredes, mobília com ares de requinte e decoração impecável. A estética é fundamental, mas tende a ser secundária. Voltemos à realidade.

Entrei e dei de cara com todo mundo, em volta de um bar simples. Cadeiras e mesas plásticas brancas, eram ocupadas por pessoas de variadas idades e portes físicos. Não estava lotada. Dos presentes, uns 10 eram boys. Uns utilizando apenas toalhas, outros estavam  vestidos, como é habitué nas saunas que costumamos frequentar. Meio deslocado, ainda tentando me localizar, sentei em uma banqueta simples de madeira e fui recebido por um dos dois simpáticos funcionários. Dois senhores animados e fervidos, trajando roupas simples, como quem está em casa lavando louça. Entre um atendimento no bar e uma acendida com o isqueiro no cigarro de um cliente, um deles me orientou a ir até a recepção abrir a minha comanda e pegar chave de armário. Eu já havia chamado atenção. Algumas pessoas já me olhavam e sabiam que era, provavelmente, a minha primeira vez ali. Um boy maduro ( Beijo, Rapha) fez sinal de levantar e eu notei que era em minha direção que ele vinha. Ráaah! Fui mais ágil, levantei primeiro e fui até a recepção. Enquanto ia, cruzei com um boy novinho, com o cabelo platinado ( descolorido), usando bermuda, camiseta e nos pés, um tênis e uma meia cano alto. Meu c..(corpo) estremeceu todo. Ele nem me olhou. Na recepção, fui consultado se já conhecia a casa. Como tinha boy perto, disse que sim e fui tateando até achar o vestiário. Fiquei surpreso ao me dar conta de que é um único vestiário para todes. ( boys e não boys). 

Ainda vestido, voltei pro bar e pedi uma bebida. Antes que pegasse na garrafa, chegou um boy ( aquele que atira pra todo lado) e quis saber se era minha primeira vez ali. Eu disse que não e antes que concluísse, ele ja queria saber de onde eu era. Dessa vez foi eu que o interrompi, perguntando, em tom de brincadeira, se aquilo era uma entrevista. Na mesa atrás da gente, uma bee de "ocrinho" gralhava alto, na companhia do platinado e do maduro que ameaçara ir em minha direção, quando da minha chegada. Para olhar pro boy de trás, era necessário um pequeno movimento de pescoço, que era impossível de ser contido. O do meu lado, a essa altura, já me oferecia uma espécie de serviço: Massagem nos pés, que segundo ele, era sua especialidade: " Odeio massagem, boy...e depois, tenho cócegas nos pés, vc não aguentaria meu riso" . Diante de tanta negativa da minha parte, ele apelou e disse que a massagem era boa, que queria apenas que eu desse uma oportunidade pra ele mostrar seu potencial. Dessa vez, não cobraria pela massagem. Novamente, em tom de brincadeira, eu perguntei se aquilo se tratava de uma entrevista para emprego. " Isso foi um pouco escroto" ele disse. " Escroto seria se eu nem tivesse aqui te ouvindo, amor, pensa pelo lado positivo. Estou te dando a oportunidade de repensar sua abordagem na oferta do seu serviço". Não, não deu briga. Gargalharíamos dois dias depois. 


SE EU NÃO FAÇO, TORÇO PARA QUE O FAÇAM


Na mesma banqueta e já com outra bebida, meu pescoço me traía e a cena era a mesma: Uma mesa farta de bebidas, uma gay bem alcoolizada e falante e dois boys: O platinado e o maduro. Entre uma gargalhada solitária e outra, a bicha agarrava o boy de cabelo loiro e dava-lhe um beijo rápido, notadamente, sem língua. O outro, apenas papo. A situação não chamava apenas a minha atenção, afinal, assim como eu, talvez, ele fosse a primeira opção pra transar, caso não estivesse alugado. para muitos dos presentes no recinto. A bicha foi, ao banheiro, imagino, e o boy se dirigiu até a banqueta de um gringo loiro, que estava duas banquetas após a minha. Um abraço, umas fungadas no pescoço e em sua mão, de presente, bem na volta da locadora, uma nota de 100. Muitos puderam ouvir o som que ecoou, assim que o boy voltou pra mesa, em sincronia com o movimento do meu pescoço:

" Que saibam que tem dona". (amaaada, deixei escapar)

Menos de um minuto depois, o boy levantou e foi ao vestiário. 

" Eeeba, vai botar a toalha e vou ver se tem necão", pensei.

Não me contive e quando estava indo verificar, ele já estava negociando com uma bilu. O encontrei de volta, na recepção dizendo, ao mesmo tempo que escrevia no Whatsapp.

" Corre aí, vai rápido, o cliente ta me esperando". saiu da sauna e foi ter com a bicha fora dali. Foi embora. Era certo que eu sentaria de frente. 

A ciumenta da mesa farta, a essa altura, estava sendo acariciada pelo maduro. Levantaram e foram ver quem era mais rápida pra ser passiva. 

Conheci uma yag do Sul ( beijo, Paola). Ficamos trocando figurinhas ao som de uma dupla que fazia música ao vivo, enquanto a bicha que parece ser a proprietária, fazia performances aleatórias no meio do grande pátio. Estava ficando tarde. Na mesa que ocupávamos, sentou um boy e puxou papo. Eu estava pronto pra trepar. Ele, um pouco tímido, alto, 22 anos, corpo da cor do verão de Salvador. Me olhou bem de perto, mas não senti aquilo que senti quando dei de cara com o platinado. A bicha que conheci disse, em conversa reservada, que já havia atendido dois. Me senti a fraca e gastadeira de água. Consultei a tabela de preços com a bicha e era condizente com os 100 que o menino pedia. Fiquei na dúvida ( na dúvida, não vá?).

Eu disse que ia pensar rápido e fui tirar a roupa. Fui ao banheiro e ele foi atrás. No mictório, começou a me agarrar e eu bem vi quando eu deu uma manjada ( sofro). Perguntei qual preferência ele tinha e obtive um " tudo" como resposta. Desisti. Disse que precisava ir embora naquela hora. A yag do Sul sugeriu embarcar  junto comigo para passarmos em algum lugar pra comer. Quando o carro do aplicativo já estava chegando, ela desistiu e foi atender ao boy maduro, que atendera a ciumenta momentos antes.

Fui embora. Na cabeça, a dúvida: E se eu tivesse pego o menino que fazia tudo? Ia dormir comido. Ou eu, ou ele. 



Aguarde a parte 2.

By MK

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